sábado, 29 de março de 2008

O ano da morte

Fotografia de Carla D.

Chovia quando te comecei a ler
E nas tuas primeiras letras a chuva
Um amontoado de palavras a desenhar o retrato
Sobre a cidade das ruelas escrever
No tempo em que se tirava a luva
Para cumprimentar os amigos à porta do Teatro

Nasceste aí em frente a ele
Passaste por ali tantas vezes
De passo apressado, cima-abaixo nas escadinhas
Quando era já só memória na pele
Uma recordação que percebes
Que entendo ao ter-te nas minhas mãozinhas

Era pequena quando te li, Ricardo
Oferecido pelo meu pai, António
De toda a Lisboa andante bastardo
Sem saber eu que eras heterónimo
Fecho o livro e já não é dia
A noite ainda não chegou
Afinal és Pessoa, não sabia
Foi isso que o pai me ensinou

Chovia, lembro-me, quando subi as escadinhas
E nas minhas primeiras memórias a chuva
Um amontoado de gotas a desenhar poças
Com aquelas paredes ainda limpinhas
Exponho a mão para fumar, sem luva
Vou atrasada para o teatro... Não corras


By Joana Latino

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito pessoal esta visita por Lisboa. Parabéns.